Conheça os cuidados necessários para tratamento da sua insônia

“Não fico sem meu remédio para dormir.”

Conheça os cuidados necessários para tratamento da sua insônia

– Toma algum outro remédio?

– Não, só o remedinho para dormir. Mas eu não posso ficar sem! Uma vez um médico me disse que era para eu tomar a vida toda!

– E qual a dosagem que usa?

– Ah! Aquele tarja preta bem fraquinho*. É só para relaxar, um calmantezinho. Já tentei dormir sem ele e não consegui. Sem ele eu não durmo! Eu não fico sem o meu remédio para dormir.

Segundo o Boletim de Farmacoepidemiologia (SNGPC – ANVISA) de 2011, o ansiolítico mais usado no Brasil entre 2007 e 2010 foi Rivotril (clonazepam). O estudo mostrou, ainda, um aumento importante da quantidade dispensada dessa medicação nas farmácias ao longo dos quatro anos avaliados. Passaram de 4.784.730 unidades em 2008 para 10.590.047 em 2010. Isso mesmo, mais de 10 milhões de unidades. E não estão incluídos nesse número todas as outras medicações da mesma “família” de ansiolíticos (os benzodiazepínicos), como o bromazepam (Lexotan, Somalium), o alprazolam (Frontal, Apraz), o diazepam (Valium), o lorazepam (Lorax), o flunitrazepam (Rohypnol) e midazolam (Dormonid).

“Mas qual é o problema? Não pode usar? Com ele eu me sinto melhor!”

Os benzodiazepínicos atuam nos receptores GABA, aliviando rapidamente a ansiedade. Por esse motivo, entre outras indicações, estão indicados para uso em situações específicas e pontuais, como por exemplo nas crises de ansiedade ou ataques de pânico. 

Porém, o efeito dessas medicações é limitado e muitas vezes, por efeito rebote, a ansiedade retorna em intensidade ainda maior, o que acaba levando as pessoas a tomarem-nas diariamente, às vezes mais de uma vez por dia, para evitar tal situação. Isso forma um círculo vicioso e leva à dependência. Nesses casos, o uso acaba sendo para evitar os sintomas causados pela ausência da própria medicação.

Além disso, esse tipo de medicamento pode causar tolerância, ou seja, com o uso contínuo a pessoa passa a precisar de doses cada vez maiores para sentir o mesmo efeito.

Um terceiro problema, ainda, é a dependência psicológica, ou seja, por vezes as pessoas passam a usar a medicação quando têm sintomas leves, ou para lidar com situações em que poderiam sentir-se ansiosas, ou por medo de uma possível insônia. Por não conseguirem enfrentar esses momentos, antecipam o uso da medicação, que talvez não seria necessária.

Alguns sinais de abuso dessas medicações são: fala enrolada, movimentos lentos e desajeitados (aumentando o risco de quedas, principalmente em idosos), mudanças de humor (principalmente, irritabilidade), pensamento mais lento, alterações de memória, aparência de sono ou de estar sedado, trocas constantes de médicos ou ter vários médicos que façam as receitas.

“Então o que eu faço?”

A primeira coisa seria fazer uma consulta para avaliar a necessidade do uso (ou não) desse tipo de medicamento. Caso não tenha indicação de uso, se orienta a retirada gradual e com acompanhamento psiquiátrico. Retirar de forma rápida e súbita pode causar crise de abstinência. Não faça isso. Além de se sentir muito mal, você ficará com a impressão de que parar de tomar esse medicamento é impossível (o que não é verdade).

“E se eu não conseguir dormir?”

Existem várias alternativas, medicamentosas ou não, para melhorar a qualidade do sono. Primeiramente, precisa ser avaliada a causa da insônia, que pode estar acontecendo por doenças do corpo (como, por exemplo, por um quadro de apneia do sono, alterações hormonais da menopausa, dores no corpo,…), por quadros de depressão, ansiedade, mania (no transtorno bipolar), preocupações excessivas, excesso de estímulos, entre outras causas.

Atualmente com o uso mais frequente de celulares, o excesso de estímulos antes de dormir (e durante o sono, com notificações de mensagens durante a madrugada) é uma das causas mais comuns de dificuldade para dormir, seja para iniciar ou manter o sono. Também serve para o uso de outros eletrônicos como tablet, computador e televisão. Outra causa, pode ser o excesso de estimulantes como cafeína (café, chimarrão, energéticos) próximo ao horário de dormir. Usar a cama para outras atividades além de dormir (e ter relações sexuais) também pode ajudar a “confundir” o cérebro sobre qual a função de estar deitado na cama. Essas pequenas alterações na rotina antes de dormir são importantes para ter um sono de qualidade e são chamadas de higiene do sono: diminuir estímulos, estar em um ambiente escuro e silencioso, não usar estimulantes perto do horário de dormir.

Nem toda insônia precisa ser medicada, às vezes a falta de sono é um alerta de que algo não está bem psicologicamente. Preocupações excessivas, pensamentos recorrentes, ansiedade, mudanças importantes na sua vida (saída dos filhos de casa, começar um trabalho novo, faculdade, medos relacionados à pandemia, às questões financeiras, aos relacionamentos) podem causar insônia. Falar sobre essas questões em psicoterapia pode ajudar e muito a melhorar não só o sono, mas entender como essas questões estão afetando sua vida e como você lida com elas.

*Não se classifica dose “fraca” segundo a quantidade de miligramas em comparação com medicações que são diferentes. Existe uma tabela para se saber a equivalência. Exemplo: Diazepam 5mg não é equivalente à 5mg de Rivotril.

Texto desenvolvido pela Psiquiatra Cristiane Felix Schlindwen- CRM/RS 34144 – RQE26958

Referências:

Boletim de Farmacoepidemiologia (SNGPC – ANVISA). Disponível no Portal da Anvisa – Acesse aqui

Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM 5. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

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