Escutar as crianças é algo que importa e que contribui diretamente no desenvolvimento infantil. Que tal ouvirmos o tanto quanto gostamos de sermos ouvidos?
O contato com as pessoas
Falar de sofrimento é algo subjetivo.
Não podemos julgar que o sofrimento de um sujeito seja maior do que o de outro, pois cada um sente suas angústias com suas próprias intensidades.
Mas acredito podermos falar sobre recursos para lidar com o sofrimento e de como desenvolvemos tais recursos.
O contato com outras pessoas e as vivências que temos é o que nos constitui.
As experiências são fundamentais e quanto mais diversificadas e constantes, maiores são as possibilidades de apreensões de recursos para que possamos lidar com as angústias.
Os desafios da Pandemia
Entretanto, a pandemia do coronavírus vem como uma situação desafiadora a ser vivenciada e, inicialmente a enfrentamos da forma que podíamos, com o que conhecíamos até então.
Através da necessidade do distanciamento social e a transposição da vida presencial para uma vida online, limitamos nosso convívio social.
No primeiro momento da pandemia, os adultos escutavam de seus governantes e da mídia em geral, de que iriam ser algumas semanas, no máximo alguns meses, vivendo dessa forma restrita. Já as crianças, recebiam de seus pais ou responsáveis a comunicação que era possível, muitas vezes em partes ou de maneira incompleta.
Todos absorvemos as informações através de uma mistura de sentimentos, mas o que mais se observou foi o medo, insegurança e raiva. O desconhecido é aterrorizante.
A pandemia ainda não passou completamente, mas as sensações foram se transformando, alguns passaram a negar a existência do vírus, outros passaram a se conformar de que iria levar mais tempo do que se imaginava inicialmente e, o que passou a se ver nas crianças foi uma exaustão. Não se tinha mais para onde correr, literalmente.
A falta de contato
Com a falta de contatos, ficamos paralisados na vida.
Muito se escutou neste tempo de pandemia, de que foi um ano letivo perdido para as crianças. Acredito que haja sim uma ligação entre a sensação de um tempo perdido e o tempo paralisado, sem movimento.
Na infância, as crianças ainda estão desenvolvendo recursos para lidarem com as adversidades impostas pela vida. A capacidade de adaptação e flexibilidade são principalmente apreendidos através das experiências. Porém, como apreendê-los, se não se tem tantas oportunidades para explorar o mundo?
Novamente, nos deparamos com a necessidade que temos dos outros, das relações.
Acredito que o recurso mais importante para lidar com as adversidades que a pandemia nos impõe, seja a criatividade. A criatividade para que essas experiências possam se transformar de alguma forma e que se saia dessa sensação de paralisação. Não existe uma fórmula mágica de como fazer isso ocorrer, cada sujeito vai lidar da sua maneira com aquilo que faça sentido para si.
É preciso escutar as crianças!
As crianças se expressam de maneira diferente da dos adultos. Esse é um fato!
- Muitas vezes elas vezes ficam irritadas quando estão tristes;
- desenvolvem ansiedade de separação, não conseguindo ficar longe da mãe, do pai ou cuidador;
- apresentam dificuldades na hora do sono;
- podem apresentar comportamentos regressivos, voltando à fases já superadas há algum tempo como chupar bico, mamar ou querer colo frequente como quando era um bebê.
Sendo assim, é preciso ficar também atento às mudanças, mesmo que pequenas – e, caso ocorram, buscar um apoio de um psicólogo online pode ajudar!
Pré pandemia
No período pré pandemia, um espaço que desempenhava em grande parte um ambiente seguro e a possibilidade de maior contato social eram as escolas.
A riqueza de vivências onde cada criança pode se relacionar com outra em um processo próximo de desenvolvimento, sob atenção e cuidados, tem valor inestimável.
Através do convívio na instituição, as crianças e adolescentes passam a receber aquilo que elas necessitam para uma maior movimentação e desenvolvimento de suas mentes.
Porém, atualmente há uma dinamicidade muito grande do que pode e do que não pode funcionar durante a pandemia, algo que ficou popularmente conhecido no Brasil como “abre e fecha”.
No momento que escrevo esse texto, está ocorrendo uma abertura geral dos serviços, inclusive das escolas. Porém, com um número muito maior de circulação de pessoas nas ruas, existe a possibilidade de um agravamento dos casos e de um novo fechamento dos serviços.
A Retomada
Presenciei, escutei e li inúmeros relatos de crianças eufóricas com o fato de poderem retomar suas atividades na escola.
Realmente é uma grande oportunidade para seus desenvolvimentos, sair da estagnação de passarem seus dias em casa em frente a telas e poderem ter contato com outras pessoas, principalmente seus iguais.
Num artigo publicado no mês de abril de 2021 pelo jornal Zero Hora, o psicanalista e escritor Celso Gutfreind comenta que crianças precisam de outras crianças para o desenvolvimento do seu psiquismo.
Portanto, é um momento de bastante euforia.
Mas pelo contato que já temos com a disseminação do vírus, também é um momento de cautela, pois de um dia para o outro essa euforia pode passar para uma enorme frustração.
Um fator complicador passa a ser quando as escolas passam a ficar ausentes no formato físico, existindo apenas de forma virtual, o qual não seria o ideal para o desenvolvimento infantil. E sim o possível.
As crianças passam a depender muito mais daqueles que estão ali concretamente para elas e há uma expectativa de que esses cuidadores possam dar muito mais atenção do que estavam acostumados. Aqueles pais que estavam ali para suprir necessidades básicas do seu filho e ser um provedor de afeto, estão precisando desempenhar mais funções, de ser aqueles que oferecem sua companhia, mas que educam, reforçam o ensino da escola. E, buscar através da criatividade, possibilidades que seus filhos possam sair de momentos de paralisação.
Faça a sua parte
É importante escutá-los, demonstrar interesse sobre aquilo que eles gostam, estimular jogos, brincadeiras e também procurar saber quais as atividades seriam mais direcionados para tais faixas etárias, buscando um maior desenvolvimento.
Indiscutivelmente, passamos por um momento único e muito delicado na sociedade, em que todos estamos precisando nos redobrar e nos reinventar.
Fazendo uma analogia com construções de prédios, alguns de nós somos prédios prontos, que pode precisar de algum tipo de manutenção, as vezes maior, outras menor; enquanto outros ainda somos prédios em construção.
E, se pararmos a construção desses prédios inacabados, há chances de se transformarem em construções condenadas, em que vida nenhuma habita.
É importante também que os pais e os responsáveis das crianças possam reconhecer quando a criança não está indo bem e que não estão conseguindo ajudá-la.
E também que saibam que existem profissionais que podem auxiliar nesse processo (como uma psicóloga on line) diagnosticar o que está ocorrendo com ela e, se for o caso, iniciar o tratamento que for mais adequado no momento.
Na clínica Insight On trabalhamos com uma equipe multidisciplinar, onde discutimos em equipe e pensamos no melhor cuidado para cada paciente.
Aqui você pode optar com consulta presencial (Psicóloga em Porto Alegre) ou atendimento com psicóloga online, do conforto da sua casa.
Texto desenvolvido pelo Psicólogo Fábio Saute – CRP 07/24168